segunda-feira, dezembro 02, 2013

FRUSTRAÇÃO NO COMBATE A CORRUPÇÃO

Acusado de ser "julgamento político", apesar de envolver corrupção real em esquemas de longa data, o chamado "Mensalão" parece  uma obra inacabada. Ao contrário do otimismo gerado desde a denúncia do ex-deputado federal Roberto Jefferson, do PTB, que assumiu a própria corrupção e denunciou outros nomes que teriam envolvimento com esquemas de compra de votos, os resultados parecem desanimadores para quem esperava o inicio de um processo de real combate à corrupção em todo país.
A principal pergunta é a seguinte: existe oportunismo político no caso "mensalão"?
Roberto Jefferson partiu para a denúncia do "mensalão" após ser denunciado em um caso de corrupção conhecido como "Escândalo dos Correios", em maio de 2005, em vídeo que comprovava a existência do pagamento de propina e onde Jefferson estava diretamente implicado.
Fosse como retaliação ou como estratégia para desviar o foco da corrupção, Roberto Jefferson denunciou  outro esquema, chamado de "mensalão", citando vários parlamentares que estariam envolvidos em compra de votos no Congresso.
A partir dessa denúncia, todos os esquemas de corrupção que existiam e envolviam partidos de oposição, foram soterrados por parte da grande mídia, que criou o "marketing do mensalão", onde a crítica central mirava alguns acusados que pertenciam ao Partido dos Trabalhadores.
Um julgamento arrastado, cheio de contradições, que criou conflitos de interpretação no STF e que no final das contas ignorou a necessidade de provas materiais em alguns casos.
O problema é que em todo esse processo, a Justiça e parte da grande mídia acabaram superestimando o papel de alguns acusados e esquecendo os corruptos que têm denúncias materiais e provas incontestáveis.
Isso gerou a desconfiança popular no caso "mensalão" e até mesmo na figura do ministro Joaquim Barbosa, que ganhou destaque sob chuva de críticas, que reclamavam de rigor excessivo para alguns acusados e indulgência para outros, principalmente na ênfase de combate aos casos de corrupção com provas materiais que são anteriores a denúncia do Roberto Jefferson.
Para piorar o clima de desconfiança sobre o "mensalão", os primeiros condenados a serem presos foram justamente aqueles em que pairavam dúvidas da real corrupção, sem provas materiais suficientes, como no caso dos parlamentares do PT, que reclamam de "julgamento político".
Os demais condenados ainda estão em liberdade. Inclusive o Roberto Jefferson, corrupto confesso no mensalão e acusado de outros crimes de corrupção que ainda não foram julgados.
Essa conotação política no caso "mensalão" de fato incomoda. Deveria ser preocupação do STF, que de maneira clara e imparcial, deveria apressar-se em julgar outras dezenas de casos de corrupção, que correm o risco de prescrição, ou estão esquecidos e embotados nas prateleiras.
Por que?
O motivo que levou a tamanha contundência no "mensalão" do Roberto Jefferson é diferente dos motivos que envolvem outros tantos casos de corrupção muito mais graves e lesivos ao país?
Essa pergunta está na boca do cidadão, que não chega à grande mídia que centrou fogo no "mensalão" do Roberto Jefferson, mas que evita divulgar os casos escabrosos da corrupção. Como as ocorridas em São Paulo por exemplo, onde o viés jornalístico torna-se tênue e insatisfatório.
Situação que demonstra que o país ainda não começou o enfrentamento de fato da corrupção, que há décadas vem sendo diluída como café no leite, tornando-se folclore apesar de ser realidade atuante e dramática.
Isso mostra bem o porque personalidades dessa corrupção folclórica caminham pelos espaços da mídia com a tranquilidade daqueles que se sentem impunes mesmo na tentativa da ação da Justiça, com a certeza de que estão protegidos por décadas de descaso.
Como Jefferson, político, filho de políticos, presidente de um dos partidos mais tradicionais, o PTB, acusado de corrupção no passado, corrupto confesso no "mensalão", que conseguiu sua aposentadoria como deputado, que nunca foi preso e que, certamente, nem mesmo agora cumprirá pena em uma penitenciária, recebendo o benefício da prisão domiciliar. Usufruirá da impunidade, assim como dezenas de outros políticos  envolvidos em acusações de milionários esquemas de corrupção.

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